Foco na qualidade em Viena

Ontem, 8 de maio, as atividades do Congresso começaram às 8 horas com um encontro entre especialistas e vários temas à nossa disposição. Escolhi discutir sobre políticas de saúde em Cuidados Paliativos. Tivemos uma breve exposição e a participação de congressistas de vários países discutindo dificuldades e estratégias para a implantação de CPs em seus países.
Às 9h, a sessão plenária teve início com uma homenagem do Dr. Franco de Cono e ao Dr. Vittorio Ventafridda, pioneiro da AECP e morto em outubro do ano passado. Em seguida, dois editores do Oxford Textbook of Palliative Care, o Dr .Geoffrey Hanks e o Dr. Russel Portenoy,  nos brindaram com excelentes palestras: “O tratamento da dor no câncer nos últimos 30 anos: controvérsias, dogmas e evidências” e “Desafios e oportunidades em pesquisa clínica de drogas para o controle de sintomas“.
Ambos apontaram para a necessidade de maiores investimentos em pesquisa sobre o tratamento da dor e demais sintomas em Medicina Paliativa. Porém, alertando para a importância de pesquisas financiadas por iniciativas governamentais, em detrimento das patrocinadas pela indústria farmacêutica. Dr. Hanks frisou a preocupação com questões ainda pouco elucidadas como a dor paradoxal e a hiperalgesia induzidas por morfina, por exemplo.
Após a plenária tínhamos nove diferentes atividades para escolher. Eram simpósios paralelos ou apresentação de temas livres. Assisti à sessão de temas sobre instrumentos de avaliação de sintomas. O destaque da sessão ficou com um trabalho da Alemanha sobre avaliação e registro de erro médico em unidades de Cuidados Paliativos e a plenária, de forma quase unânime, expressa mais uma vez a preocupação com a qualidade dos serviços de Cuidados Paliativos. Dr .Robin Faisinger e Dra. Maria Nabal, coordenadores da mesa, estimularam esta discussão que foi muito produtiva.
Troquei o simpósio de almoço pela visita aos pôsteres. O congresso exibiu hoje 472 trabalhos científicos, muito bem selecionados. Marcamos uma bela presença hoje com 12 trabalhos apresentados pela equipe do Instituto Nacional do Câncer, todos de excelente qualidade. Os profissionais do INCA se destacaram em temas, por exemplo, como o controle de infecção hospitalar na Unidade de Cuidados Paliativos e mostraram como medidas como o controle do uso de antimicrobianos e soluções como o uso de metronidazol tópico para controlar feridas mal odorosas são importantes para reduzir infecções por bactérias multiresistentes na Unidade. Também achei importante, em tempos de obstipação intestinal em moda, o INCA apresentar um belo trabalho sobre o uso combinado de lactulose e chá de sene com excelentes resultados sobre a obstipação induzida pelo uso de opóides.
A plenária da tarde apresentou duas questões importantes: hospices para crianças, com uma bela exposição sobre um hospice infantil inglês e Cuidados Paliativos em geriatria, em brilhante exposição da médica norueguesa Bettina Sandgarten sobre a questão das Nursing Homes, aspectos confluentes e diferenças com o hospice.
Na última plenária do dia participei de uma ótima mesa sobre financiamento de pesquisas. Impossível não refletir no quanto é papel da ANCP estimular iniciativas de pesquisa em Cuidados Paliativos em nosso país e descobri quais os caminhos que podemos trilhar para obter financiamentos através da nossa associação. Também tive uma importante conversa com a Dra Kathelen Foley da IAHPC. Ela ficou encantada com o livro que publicamos junto com o CREMESP (eu a presenteei com um exemplar) e se comprometeu em apoiar as iniciativas da ANCP. Seu primeiro comentário me deixou orgulhosa: “Ah… o Brasil sempre produz ótimos trabalhos“.
Está muito clara a preocupação da AECP e de todos os participantes com a qualidade na prestação de serviços de Cuidados Paliativos, que não pode deixar nada a desejar com relação a outras especialidades. Na Europa há muito já foi superada a idéia de Cuidados Paliativos como a atenção apenas generosa a pacientes no final da vida, uma idéia que ainda permeia a fala de muitos brasileiros pouco avisados. É nosso esforço também cuidar deste conceito e estimular uma nova cultura de Cuidados Paliativos.
Pesquisar, buscar as melhores evidências científicas, rever antigos conhecimentos, descobrir novas alternativas para o melhor tratamento possível de sintomas, prover serviços de qualidade, embasar eticamente as decisões em Cuidados Paliativos e combinar toda a ciência possível com a arte da boa comunicação e do trabalho preciso de apoiar emocionalmente o paciente e sua família são os ingredientes imprescindíveis à boa prática dos Cuidados Paliativos.
São estes ingredientes que devemos cultivar de forma incansável através da força da ANCP.
Até breve,
Maria Goretti Sales Maciel