Archive for novembro, 2008
Cuidados Paliativos e o sofrimento infantil
O último dia de atividades do III CICP começou com uma palestra da nova presidente da ANCP, Dra. Silvia Barbosa, sobre o “Morrer sendo criança: diferenciais nos cuidados palialtivos em pediatria”. Na apresentação, a médica ressaltou “que é sempre mais fácil lidar com crianças pois elas sempre sorriem. Mas devemos nos lembrar: as crianças também morrem”.
Congresso tem participação expressiva de jovens
Uma das marcas do III CICP foi a participação expressiva de jovens inscritos, provando que o tema está se espalhando em todas as áreas da saúde. “Com o envelhecimento da população, os profissionais de saúde estão compreendendo a demanda na área de Cuidados Paliativos”, afirmou a Dra. Cláudia Burlá, da ANCP.
Poder judiciário manifesta preconceitos contra Cuidados Paliativos
Apesar das chuvas torrenciais em Brasília, os ânimos no III CICP esquentaram bastante hoje, dia 28 de novembro, segundo dia de atividades. Convidado para uma conferência sobre “A Terminalidade da Vida na Visão do Poder Judiciário”, o jurista Esdras Neves Almeida ministrou uma palestra que mais acusou do que esclareceu. Ainda com uma velha e confusa visão de que Cuidados Paliativos são similares à eutanásia, o representante do poder judiciário manifestou preconceitos e fez uma palestra em tom ameaçador, apontando os rigores da lei em relação à prática e transferindo para o poder judiciário a responsabilidade sob uma conduta que é médica.
Parecendo não saber que Cuidados Paliativos fazem parte de uma política global da Organização Mundial da Saúde e que também está na pauta de associações do mundo todo para que sejam reconhecidos na ONU como um direito humano, o jurista aconselhou os médicos e paliativistas presentes a sempre obterem o consentimento do paciente ou familiar para suas decisões.
Suas posições acusatórias, no entanto, geraram um grande mal estar entre os paliativistas. Na mesa que o sucedeu, o Dr. Roberto D´Avila, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, foi enfático em dizer que a entidade continuará trabalhando pela regulamentação da área. “O Judiciário está sempre atrasado em relação às mudanças exigidas pela sociedade”. O Dr. Roberto assegurou aos médicos presentes que não há necessidade de reavaliarem suas condutas paliativas para com seus pacientes.
Já a Dra. Cláudia Burlá, médica geriatra e conselheira da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, enfatizou: “Bons cuidados ao final da vida são uma questão de saúde pública”.
A presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Dra. Maria Goretti Sales Maciel, também pediu aos paliativistas que não temam suas decisões em relação aos seus pacientes. “A resolução 1.805 teve como base a Constituição Brasileira, que condena a torutra e o tratamento desumano”, disse a presidente.
Em tempo, a Resolução 1.805, escrita pela Câmara Técnica de Teminalidade e Cuidados Paliativos do CFM, foi indeferida por liminar este ano, porém não foi esquecida, nem engavetada. A resolução regulamenta a suspensão do tratamento a pacientes com doenças crônico-degenerativas em fase terminal. “Se for necessário, chegaremos ao Supremo Tribunal Federal”, completou D´Avila.
Não há uma política pública de Cuidados Paliativos no Brasil
Roberto D´Avila, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, participou da abertura do III CICP, afirmou que “realmente não há uma política pública em Cuidados Paliativos no Brasil. O que existe são iniciativas fragmentadas dependentes de lideranças, gestores e médicos de um serviço público ou privado.”
Questionado sobre a posição do CFM para o desenvolvimento dos Cuidados Paliativos, o médico confirmou o apoio da entidade. “O CFM está participando ativamente deste processo através de uma Câmara Técnica de Teminalidade e Cuidados Paliativos que está elaborando resoluções sobre o assunto. Uma delas, trata da suspensão de tratamento supérfluo ou desnecessária para pacientes portadores de doenças que ameaçam a vida, que podem ser assistidos pela paliação nestes casos. Também estamos elaborando um Manual de Cuidados Paliativos junto com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, que faz parte desta Câmara Técnica. Outra resolução que será elaborada em breve será sobre a ordem de não ressuscitar e, por fim, junto como Ministério da Saúde, queremos juntar esforços para capacitação de profissionais e criação de centros paliativistas”, informou.
Falta vontade política. Ponto.
Silvia Barbosa, a nova presidente da ANCP para o biênio 2009/2010, ressaltou, nesta quinta-feira, 27 de novembro, a necessidade de uma política pública de Cuidados Paliativos integrada. “Os governos federal, estadual e municipal devem conversar sobre o assunto”, afirmou. “E o que falta é vontade política. Ponto”. Sílvia também informou que a marca de sua gestão, que começará em janeiro de 2009, será “educação”.
Henrique Parsons fala sobre os efeitos colaterais dos opióides
Na mesa redonda “Dor em Cuidados Paliativos”, ministrada ontem no III CICP, o Dr. Henrique Parsons, médico e pesquisador do Departamento de Cuidados Paliativos e Medicina de Reabilitação do MD Anderson Cancer Center, nos EUA, ressaltou a importância do diálogo entre o médico e o paciente para monitorar os efeitos secundários dos opióides. “O paciente deve ser constantemente questionado sobre como está se sentindo: como estão seus intestinos, se sente enjôos, vômitos, sonolência, alterações de humor. O monitoramento é essencial antes que um estado mais grave se instale. Outro ponto importante, que os paliativistas muitas vezes esquecem, é que para minimizar efeitos colaterais, é possível fazer uma rotação de opióides. Às vezes, só com esta rotação, o efeito colateral vai embora, com exceção da constipação, que é uma recorrência de todos esses remédios”, comentou.
Academia triplica o número de associados
Nesta primeiro dia do III CICP, a Academia Nacional de Cuidados Paliativos triplicou o número de sócios. Durante todo o dia, pessoas e entidades de todo o país buscaram informações sobre a entidade e também sobre seu trabalho. Cada novo associado recebeu os dois facículos do PAC – Programa de Educação Continuada e também uma cópia dos “Critérios de Qualidade para os Cuidados Paliativos no Brasil”. Eles também aproveitaram a promoção no valor da anuidade: de R$ 275,00 por R$ 75,00. Esses valor é válido até 10 de dezembro, inclusive para quem se associar pelo site http://www.paliativo.org.br.
Nova droga alivia constipação causada por opióides
Palestra do Prof. Dr. Franco de Conno, da Academia Européia de Cuidados Paliativos, atualizou a terapéutica da constipação nesta quinta-feira, dia 27 de novembro, no III CICP. “Nós temos uman ova droga, que será lançada nos próximos meses, que parece ser um grande avanço para constipação causada por opióides. Acredito que será uma boa solução para pacientes que necessitam de evacuação manual, uma situação ruim tanto para o paciente, quanto para o profissional de saúde”.
Palestra discute os Cuidados Paliativos e o Cinema
Em palestra intitulada “Expressão dos Cuidados Paliativos nas Artes – Cinema, o Dr. Kleber Lincoln Gomes, da Faculdade de Medicina de Itajubá, ressaltou que “se as pessoas – independente de serem profissionais da área – prestarem maior atenção às artes, como uma letra de música, um quadro, uma fotografia e, principalmente, o cinema, eles aprenderão muita coisa sobre Cuidados Paliativos, sobre o cuidador e sobre o sofrimento humano diante de situações fatais. Às vezes, o só o discurso não atinge as pessoas. O cinema é um dos melhores veículos e é interessante como os cineastas, com sua arte, sensibilizam as pessoas”.
A Arte resgatada
Professores de diversas instituições de ensino na área de saúde estão convencidos de que a Arte, principalmente o Cinema, é uma importante ferramenta de sensibilização e de aprendizado. É a união entre uma formação que antes era apenas técnica e científica com áreas que antes estavam restritas às Ciências Humanas (sábio nome!!!). Antes renegadas como contra-producentes, fora do mercado, enfeite, inúteis, parece que agora as Ciências Humanas encontraram seu rumo nos modelos econômicos hegemônicos. Estão se tornando uma necessidade. Mais Platão, menos Prozac é o nome de um livro famoso. Mais Kurosawa, mais Almodóvar, mais Proust, mais Machado de Assis. Que bom que o mundo roda, mas volta à sua essência. Todo mundo deveria estudar literatura, filosofia, história, cinema, teatro, música, poesia, pintura, etc. De fato o mundo seria bem melhor!
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